O que podemos concluir de uma análise literária sobre ambos os textos?
Começando com o olhar sobre o específico sermão “Santo Antônio aos Peixes” de Vieira, que aborda automaticamente todo seu contexto histórico e literário através das mazelas da contrarreforma no período Barroco, destacando-se por sua facilidade na oratória e sua escrita conceptista (argumentos baseados na lógica e no sentido)
Dividido em 6 partes do sermão tem uma estrutura típica do autor, começando com uma frase introdutória de saudação:
“Vós sois o sal da terra.”
e desenvolve seu presságio exódio, já implantando seu silogismo aristotélico através da primeira parte de seu sermão:
“Vós, diz Cristo Senhor nosso, falando com os pregadores, sois o sal da terra: e chama-lhes sal da terra, porque quer que façam na terra o que faz o sal. O efeito do sal é impedir a corrupção, mas quando a terra se vê tão corrupta como está a nossa, havendo tantos nela que têm ofício de sal, qual será, ou qual pode ser a causa desta corrupção? Ou é porque o sal não salga, ou porque a não se deixa salgar. Ou é porque o sal não salga, e os pregadores não pregam a verdadeira doutrina que lhe dão, a não querer receber. Ou é porque o sal não salga, e os pregadores dizem uma cousa e fazem outra; ou porque a terra se não deixa salgar, e os ouvintes querem antes imitar o que eles fazem, que fazer o que dizem. Ou é porque o sal não salga, e os pregadores se pregam a si e não a Cristo; ou porque a terra se não deixa salgar, e os ouvintes, em vez de servir a Cristo servem a seus apetites. Não é tudo isso verdade? Ainda mal.”
Assim como o Sermão da Sexagésima, ele já coloca a questão principal em evidência: De quem é a culpa de toda esta corrupção? Dos pregadores ou dos ouvintes?
Seu argumento se dá na utilização da definição lógica de um objeto (sal) que possui uma função (barrar a corrupção da terra) e liga isso ao argumento abrangente, utilizando como metáfora (sal como sendo pregadores e a terra como sendo os ouvintes) para as corrupções humanas. Tática de oração conceptista.
Agora, comparando estruturalmente o sermão de Padre vieira com o de Wallace, em nossa contemporaneidade, destacando sua introdução absurdamente informativa e acidamente acadêmica:
“Como você se comportaria caso encontrasse uma pessoa famosa que admira muito?
Ao encontrar um ídolo, as pessoas têm reações muito diferentes umas das outras. Algumas gritam, choram de emoção e ficam paralisadas. Outras, perdem a respiração, tentam tirar uma foto, abraçar e beijar.
Se ao encontrarmos uma celebridade ficamos extremamente emocionados, então, por que não reagimos assim na presença de Deus? “
Observa-se:
Texto com pouco caráter literário, o que pode apontar grande diferenciação com a escrita de Vieira, uma vez que sua obra é cheia de figuras de linguagem como a metáfora e antítese; o que nos faz identificar a falta de argumentação individual; deixando apenas as definições cruas das referências retiradas pelas passagens da bíblia.
Semelhanças:
Ambos sermões são divididos em 6 partes, porém, ao analisarmos o sermão de Vieira, percebe-se a construção de uma caminhada em sua linha de raciocínio, trazendo uma abrangência didática e dinâmica: “Argumentos micro > argumentos relacionados ao macro > Ligação lógica entre a metáfora da questão introdutória > conclusão da linha de argumento”, enquanto Wallace basicamente escolhe uma passagem da bíblia, divide em 6 questões aleatórias a serem discutidas e desenvolvendo cada parte separada uma da outra (fugindo da lógica conceptista barroca)
Aditivamente percebemos que ambos sermões possuem suas partes finais como sendo conclusivas, ou seja, colocando uma ideia fixa e final para que o ouvinte assimile todo o discurso como uma ferramenta útil de compreensão moral.
BIBLIOGRAFIA:
Link para sermão de Wallace Mello: https://sejapregador.com/isaias-6/
Link para sermão de Padre Vieira http://www.rogerliteratura.com.br/aulas/SermaoSAntonio.pdf
https://literaturanomeiodomundo.wordpress.com/2011/11/10/sermao-de-santo-antonio-aos-peixes/
https://www.youtube.com/watch?v=9PuhiwScvIk
Salamandra, La Ruja 